Lista 2/01 - Exercício 4
Este exercício traz uma caracterização de continuidade através de 2 conceitos mais fracos: Os de semicontinuidade inferior e superior:
Definição: Seja $(X,\tau)$ um espaço topológico e $f: X \to \mathbb{R}$ uma função. Dizemos que:
- $f$ é semicontínua superiormente se:
$$
f^{-1}((-\infty,y)) = \{x \in X : f(x)<y\} \in \tau, \forall y \in \mathbb{R}
$$ - $f$ é semicontínua inferiormente se:
$$
f^{-1}((y,+\infty)) = \{x \in X : f(x)>y\} \in \tau, \forall y \in \mathbb{R}
$$
Exercício: Mostre que $f$ é contínua se, e somente se, $f$ é semicontínua inferiormente e superiormente simultaneamente.
Extra: Você pode exibir um exemplo de uma função que não seja contínua mas que seja semicontínua inferiormente ou semicontínua superiormente?
- AAndré Caldas @andrecaldas
Você respondeu metade do exercício! :-P
Excelente, valeu!
- AEm resposta arodolfo_edp⬆:André Caldas @andrecaldas
Gostei do extra. Tava lá na lista?
- RRodolfo Ferreira de Oliveira @rodolfo_edp
Tava não professor! Mas como esse conceito de semicontinuidade é muito útil em analise funcional, por exemplo, achei interessante sugerir a colocação de um exemplo
- JEm resposta arodolfo_edp⬆:João Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Seja $f:X\rightarrow\mathbb{R}$ contínua. Então para cada aberto $A\subset\mathbb{R}$ tem-se que $f^{-1}(A)\in\tau_X$. Ora, então dado $y\in\mathbb{R}$ e $x\in X$ vemos que,
$$
\begin{align*}
\{ x\in X:f(x)<y \} = f^{-1}(-\infty,y) \\
\{x\in X:f(x)>y \} = f^{-1}(y,+\infty)
\end{align*}
$$
são imagens inversas de subconjuntos abertos da reta portanto são abertos em $X$. Como esse fato vale para cada $y\in\mathbb{R}$ segue-se que $f$ é semicontínua inferiormente e superiormente. Reciprocamente, suponha que $f$ seja semicontínua inferiormente e superiormente e mostremos que $f$ é contínua. De fato, sejam $a\in X$ e $V\in\mathcal{V}(f(a))$ dados arbitrariamente então existe $\varepsilon>0$ tal que, $B_\varepsilon (f(a)\subset V$. Daí, considere
\begin{align*}
y_1=f(a)+\varepsilon \ \text{e}\ y_2=f(a)-\varepsilon
\end{align*}
Pela hipótese existem abertos $A_1,A_2\in\tau_X$ tais que,
\begin{align*}
A_1=f^{-1}(y_2,+\infty)\\ A_2=f^{-1}(-\infty,y_1)
\end{align*}
Logo,
\begin{align*}
A_1\cap A_2&=f^{-1}(y_2,+\infty)\cap f^{-1}(-\infty,y_1)\\
&=f^{-1}[(y_2,+\infty)\cap (-\infty,y_1)]\\
&=f^{-1}[ B_\varepsilon (f(a))]\in\tau_X
\end{align*}
Então $f^{-1}(V)\supset f^{-1}(B_\varepsilon (f(a))=A_1\cap A_2$ e, portanto, $f^{-1}(V)\in\mathcal{V}(a)$. Como $a$ foi tomado arbitrário segue-se que $f$ é contínua.
Para o exemplo, considere $A=(2,3)$ e defina
\begin{align*}
I_A:\mathbb{R}&\rightarrow \mathbb{R}\\
x&\mapsto
\begin{cases}
1, \ \text{se} \ x\in A\\
0, \ \text{se} \ x\not\in A
\end{cases}
\end{align*}
Então,
\begin{align*}
y\geq 1\Rightarrow I_{A}^{-1}(y,+\infty)=\varnothing\\
0<y<1\Rightarrow I_{A}^{-1}(y,+\infty) = A \\
y\leq<0\Rightarrow I_{A}^{-1}(y,+\infty) =\mathbb{R}
\end{align*}
Portanto, em qualquer caso $I_{A}^{-1}(y,+\infty)$ é um aberto em $\mathbb{R}$ donde $I_A$ é semicontínua inferiormente mas não é contínua pois, $2,3$ são pontos de descontinuidade para $I_A$ (vide Lista 1/02 - Exercício 11).- RRodolfo Ferreira de Oliveira @rodolfo_edp
Observe que para concluir continuidade vc deve trabalhar com a imagem inversa, não com o conjunto imagem. Pois mesmo uma função que é aberta, isto é, tal que $f(A)$ é aberto sempre que $A$ é aberto pode não ser contínua.
- JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Mas eu não estou mostrando que imagem de aberto é aberto mas sim que a imagem de $A$ através da $f$ está contida no intervalo $(f(a)-\varepsilon, f(a)+\varepsilon)$. Que no fundo é equivalente a dizer que $A\subset f^{-1}[ (f(a)-\varepsilon, f(a)+\varepsilon) ]$. Não é isso?
- RRodolfo Ferreira de Oliveira @rodolfo_edp
É porque isso não mostra que pré-imagem de aberto é aberto, entende? Vc tem que pegar um aberto arbitrário da reta e mostrar que a pré-imagem dele é aberto.
Da hipótese, vc tem que $f^{-1}(a,+\infty)$ e $f^{-1}(-\infty,b)$ são abertos. Assim, a sua intercessão que é $f^{-1}(a,b)$ é aberto, para todo $a,b$ reais, $b>a$. Ou seja, pré-imagem de todo intervalo aberto é aberto. Como concluir então para um aberto qualquer?
- JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Entendi sim vou refazer. Muito obrigado.
- Em resposta aJoaovitor⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Uai... eu não vi como estava antes, não. Mas acho que o que você está dizendo parece correto.
Se, para todo $\varepsilon$ você mostrar que existe um aberto $A \in \tau(a)$ tal que
$$f(A) \subset (f(a)-\varepsilon, f(a)+\varepsilon),$$
então tá mostrando que é contínua no ponto $a$.--
PS: Eu sugiro usar bolas ao invés de intervalos com $\pm \varepsilon$.
- Em resposta arodolfo_edp⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Dá pra usar a imagem direta...
https://youtu.be/WEBhUT8Rmcc?list=PLMG2ETzS-iy-u0gN23Wj_P_9h_3IkKvQ6&t=1224Mas eu não sei como tava escrito...
- JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Foi essa a ideia que eu tive mas não estava tão bem escrita eu tinha invertido o $y_1$ com o $y_2$. Por isso deve ter parecido que a ideia estava errada
- Em resposta aandrecaldas⬆:JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
A ideia era tomar $A=A_1\cap A_2$ e mostrar que $f(A)\subset B_\varepsilon(f(a))$ onde $\varepsilon$ é tomado arbitrário.
- Em resposta aJoaovitor⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Seria interessante, se você argumentasse que a família de conjuntos da forma $(a, \infty)$ e $(-\infty, b)$ geram a topologia (usual) de $\mathbb{R}$.