Este exercício propõe estabelecer uma condição suficiente para uma propriedade que é apresentada lá no primeiro curso de Análise e ainda é válida para alguns espaços mais gerais.
Seja $(X,\tau)$ um espaço topológico tal que para todo $x \in X$ existe uma base enumerável:
$$
\mathcal{B}_x = \{B_1(x), B_2(x), ..., B_n(x), ...\}
$$
para $\mathcal{V}(x)$. Mostre que $F\subset X$ é fechado se, e somente se, $F$ é sequencialmente fechado. Em outras palavras, $F=\bar{F} \iff \forall \{x_n\} \subset F$ tal que $x_n\to a$, então $a \in F$.
Observações: A implicação $F$ fechado $\implies F$ sequencialmente fechado sempre vale em qualquer espaço topológico. A recíproca em geral não é verdadeira e fica como exercício buscar um contra-exemplo. Obviamente, a topologia deste espaço não admite base enumerável.
- TThiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Me veio agora uma dúvida. No contexto geral de espaços topológicos, a definição de $\mathcal{V}(x)$ seria:
$$\mathcal{V}(x) : \{V \subset X : \exists \, U \in \tau \text{ tal que } U \subset V \} ?$$
Fiquei com essa dúvida, pois só me recordo da definição de $\mathcal{V}(x)$ para espaços métricos.- TThiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Pode ignorar, já sei. É a Definição 4.6. do livro do prof.
- TEm resposta arodolfo_edp⬆:Thiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Seja $\{x_n\}_{1}^{\infty} \subset F$ uma sequência que converge para $x \in X$. Dada $V \in \mathcal{V}(x)$, eventualmente $\{x_n\}_{n=1}^{\infty}$ entra em tal conjunto, o que nos dá $V \cap F \neq \emptyset,$ ou seja, $x \in \overline{F}$. Reciprocamente, seja $x \in \overline{F}$. Por hipótese, existe uma base de vizinhanças de $x$ enumerável, a qual denotamos por $B_x$. Note que $B_n(x) \cap B_m(x) \neq \emptyset$, para todo $m, n \in \mathbb{N}$ com $n \neq m$, afinal, $x$ está em todos os conjuntos em $B_x$. Para cada $n \in \mathbb{N}$ defina $E_n = \bigcap_{k=1}^{n} B_{k}(x)$ e note que $\{E_n\}_{n =1}^{\infty}$ forma uma sequência decrescente, isto é, $E_{n+1} \subset E_n$, para todo $n \in \mathbb{N}$. Uma vez que interseção finita de vizinhanças é também uma vizinhança, segue que $E_n$ é vizinhança de $x$. Logo, como $x \in \overline{F}$, podemos escolher $x_n \in E_n \cap F \neq \emptyset$. Mostremos agora que $x_n \rightarrow x$. Dada $V \in \mathcal{V}(x)$, existe $n_0 \in \mathbb{N}$ tal que $B_{n_0}(x) \subset V$. Como a sequência dos conjuntos $E_n's$ é decrescente, segue que $x_n \in E_{n_{0}} \subset V$, para todo $n \geq n_0$. Isso nos dá a almejada convergência. Segue da hipótese que $x \in F$ e concluímos que $F \subset \overline{F}$. Lembre que sempre vale $F \subset \overline{F}$. Portanto $F$ é fechado.
Com relação ao exemplo de uma espaço que é sequencialmente fechado mas não é fechado, não consegui. Todavia consegui encontrar um exemplo de um espaço cujos pontos no fecho de subconjuntos não pode ser o limite de nenhum sequência. Segue o exemplo:
Seja $(\mathbb{R}, \tau_{c.e.})$, onde
$$\tau_{c.e.} = \{A \subset \mathbb{R} : \mathbb{R}\backslash A\text{ é enumerável} \} \cup \{\emptyset \},$$
é a chamada topologia do complemento enumerável. É importanto notar que os abertos são da forma: $U = \mathbb{R} \backslash \{b_n : n \in \mathbb{N}\}$. Observe que $2 \in \overline{[0,1]}$, pois, dada qualquer vizinhança $U$ de $2$ vale $V \cap [0,1] \neq \emptyset$, do contrário, o intervalo $[0,1]$ estaria contido em $\mathbb{R}\backslash V$, o que não pode acontecer, haja vista que o mesmo deve ser enumerável. Por fim, nenhuma sequência pode convergir para $2$. De fato, seja $\{x_n\}_{n=1}^{\infty}$ uma sequência que converge para $2$. Sem perda de generalidade, suponha que o número $2$ não está entre os termos de tal sequência. Logo, o conjunto $W = \mathbb{R} \backslash \{x_n\}_{n=1}^{\infty}$ é uma vizinhança de $2$, porém, $x_n \not\in W$, para todo $n \in \mathbb{N}$.- AAndré Caldas @andrecaldas
No seu exemplo, apenas as sequências eventualmente constante convergem. Então, para qualquer conjunto, $B$, temos que $\mathrm{s-cl}(B) = B$.
- Em resposta athiagogmelo⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Os abertos são esses, mais o $\emptyset$. :-)
Ah... e mais o $\mathbb{R}$. ;-)- TThiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Verdade prof.
- Em resposta athiagogmelo⬆:RRodolfo Ferreira de Oliveira @rodolfo_edp
boa solução, há só um erro de digitação que precisa ser consertado na linha 11. Quanto ao exemplo, se ninguém colocar algum nos próximos dias, eu escrevo sobre ele
- TThiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Corrigido! Gostaria de ver o exemplo.
- Em resposta arodolfo_edp⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Eu quero também um exemplo de um espaço onde tenha algum conjunto $D$ tal que $\text{s-cl}(\text{s-cl}(D)) \neq \text{s-cl}(D)$. :-)
- JEm resposta arodolfo_edp⬆:João Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Para a reciproca, suponha por absurdo que $F\not\subset\overline{F}$ então existe um elemento $b\not\in F$ tal que, para toda $V\in\mathscr{V}(b),V\cap F\neq\varnothing$. Pela hipótese existe uma base enumerável $\mathscr{B}(b)=\{B_n(b)\}$ a qual podemos supor ordenada mediante a relação de inclusão, isto é,
\begin{align*}
B_1(b)\supset B_2(b)\supset..\supset B_n(b)\supset B_{n+1}(b)...
\end{align*}
Logo, em particular, podemos tomar para cada $n\in\mathbb{N}$ um elemento $x_n\in B_n(b)\cap F$. Mostremos que a sequência $x_n$ converge para $b$. De fato, dada arbitrariamente $V\in\mathscr{V}(b)$ existe $B_{n_0}(b)\in\mathscr{B}(b)$ tal que, $B_{n_0}\subset V$. Assim, para $n\geq n_0$ segue-se que $x_n\in V$. Logo, $x_n\rightarrow b\not\in F$ uma contradição pois, pela hipótese, se $x_n\in F$ então $x_n\rightarrow a\in F$. Portanto, o conjunto $F$ deve ser fechado.- JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Postei essa solução para saber se meu raciocínio esta correto. Acho que a ideia é parecida com a do @thiagogmelo só que bem mais informal.
- Em resposta aJoaovitor⬆:AAndré Caldas @andrecaldas
Eu continuo a insistir nessa "banalização" do "absurdo". A hipótese de que $F \neq \overline{F}$ não é usada em nenhum lugar. Você tomou um ponto de $\overline{F}$, e mostrou que ele está em $F$.
- JJoão Vitor Barbosa e Oliveira @Joaovitor
Certo :( não sei porque mas quando você escreve dessa forma parece que os argumentos saem mais naturalmente
- AAndré Caldas @andrecaldas
É que o argumento segue um padrão fácil... assume que não é, e vai em frente... acho que isso bloqueia um pouco nosso entendimento da coisa.
Tem casos em que você precisa, de fato, utilizar a tal hipótese errada em algum momento. Mas isso de ficar assumindo o que não vale, não utilizar a hipótese, e chegar em uma "contradição", eu acho ruim. Significa, um pouco, que você não está prestando atenção. :-)
Quando a gente está lendo uma demonstração... tem lá um monte de hipóteses... você leu tudo e "acha" que entendeu. Mas se você realmente não sabe onde foi usada cada uma das hipóteses, você não entendeu de verdade. Se você não entendeu onde foi usada uma hipótese que era necessária, então você, dentro da sua cabeça, demonstrou uma coisa que não é verdade, e não sabe dizer onde está o erro.
- Em resposta aandrecaldas⬆:TThiago Guimarães Melo @thiagogmelo
Realmente prof., na maioria das vezes quando quero provar que $p \implies q$, sempre que posso, faço por contradição ou absurdo. Sempre faço assim pela força do hábito mesmo. Mas agora com seu conselho, percebo que na maioria das vezes, o que provo é exatamente ~$q \implies $~$p$. Escrevendo assim de fato fica mais elegante.